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Vamos falar de inclusão?

Vamos falar de inclusão?
A cada dia que passa temos visto mais pessoas com deficiência compartilhando de espaços de convivência comunitária. Muitos me perguntam se aumentou o número de pessoas com deficiência. Respondo: não, não aumentou! O que há é uma maior consciência deles para com seus diretos e capacidades, e com isso a certeza de que os espaços públicos e as oportunidades não devem ser (e não são) privilégio de alguns. 

Pessoas com deficiência também tem necessidades exatamente com as suas - comer, dormir bem, ter uma vida social agradável, se locomover até onde desejar, ter acesso à informações variadas, se divertir, viver... trabalhar. E para este último, antes da deficiência, deve ser notado seu Potencial. Ninguém quer ser visto primeiro por sua dificuldade. Ninguém. E todos temos nossos pontos fracos, todos somos diferentes e com individualidade de capacidades. Não é justamente essa a graça do mundo? Enfim, vamos ao ponto: pessoas com deficiência tem mais do que o direito ao trabalho, tem a capacidade para exercê-lo assim como qualquer outra pessoa e suas limitações. 

O que deve ser analisado é o potencial e a capacidade para cada tipo de vaga. Vou dar um exemplo superficial, só para começarmos a ilustrar e traçar um raciocínio: Eu, por exemplo, não me candidataria à uma vaga em exatas. Números não são meu forte. Mas se preciso usá-los, mesmo em meu dia a dia de “humanas”, uso uma calculadora. Sei do meu limite, e quero também ser respeitada nele. Uma pessoa com nanismo, por exemplo, não tem como manusear uma prateleira de 2 metros de altura. O ambiente é deficiente. Tem como colocar uma escada? Ou trazer esse material para uma prateleira mais baixa? Possivelmente sim. Mas vamos imaginar que não, todas as possibilidades foram pensadas, e não é viável. Então, nesse caso, estou certa que esta candidata anã terá talento suficiente para uma outra vaga disponível, em indústria, comércio ou similar. Anotem essa palavra: talento.

O ponto é - não podemos limitar à revelia, sem conhecer o limite de cada um. Oportunizar é preciso. Para isso foi criada a lei de Cotas, aquela que diz que toda empresa com mais de 100 funcionários é obrigada a ter em seu quadro de funcionários uma porcentagem de contratados com algum tipo de deficiência. Ok, muitas vezes também não é uma tarefa fácil para a empresa, já que em vários casos temos limitações arquitetônicas e físicas do próprio posto de trabalho que dificulta uma inclusão efetiva e fluida para qualquer tipo de deficiência. A vaga ou posto de trabalho também tem suas demandas, e isso também não pode ser negligenciado. As empresas não são vilãs. Elas muitas vezes ficam em busca de como fazer inclusão em cima de um monte de informações novas e desconhecidas sobre essa fatia de população. Muitas vezes estão tentando bravamente, algumas com sucesso, outras nem tanto.

Mas de verdade, acho que o problema não está aí. A questão não começa da falta de oportunidades ou de vagas de qualidade para pessoa com deficiência. Está sim em uma mudança cultural que deve começar de cada um de nós. Se eu sou aquele que estaciona na vaga reservada para pessoa com deficiência (“só um minutinho...”), se sou aquele que morre de pena quando vejo que uma criança é surda e tenho a certeza de que ela não pode aprender como os demais, se sou aquele que acha que deficiência é algo distante de mim, se sou aquele pequeno comerciante que não contrata pessoa com deficiência porque “não sou obrigado” ou porque “é melhor achar um ‘normal’, né?”, se sou aquele que prefere não conviver com pessoa com deficiência porque tenho medo de agir mal com ele, pois bem, então EU engordo as estatísticas de desemprego e falta de sucesso de uma pessoa com deficiência! A responsabilidade também é minha. Todos devemos nos movimentar para olhar para as pessoas com deficiência com maior naturalidade, entendendo que em boa parte dos casos, deficiente mesmo é o ambiente e as formas de ver a deficiência. E diferente sou eu, é você, somos nós todos. Todos.

Postado Por Viviane Nicézio

Viviane Nicézio
Fisioterapeuta, especialista em Inclusão de pessoas com deficiência. Fundadora e CEO da Adequa Desenvolvimento, presta assessorias voltada a inclusão e adequação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, levando com ela a bandeira de inclusão e a certeza de que ser diferente é mais que normal, é uma condição humana.

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